As diferenças entre os baixos Lakland USA e Skyline

Uma pergunta que o baixista sempre faz quando está pensando em adquirir um Lakland é “Quais são as diferenças entre os baixos feitos em Chicago (USA Series e Classic Series) e os que vêm da Indonésia (Skyline Series)?”. Vamos destrinchar esse assunto para você!

A Lakland começou em Chicago, na primeira metade dos anos 90, e o primeiro design original foi o 4-94. Todos os instrumentos eram feitos à mão. Alguns anos depois, como nos contou John Pirruccello, presidente da empresa, eles começaram a fazer instrumentos na Ásia, a série Skyline. O nome Skyline é uma homenagem à cidade de Chicago. A palavra “skyline” em inglês serve para descrever a silhueta dos prédios, vista contra o céu.

Os americanos chamam os instrumentos feitos fora do país de “imports”. No Brasil, quando falamos que um produto é importado, a reação imediata é de que se trata de algo de qualidade superior. Já nos EUA é ao contrário. A impressão do consumidor, em especial do músico, era que um instrumento importado era de qualidade inferior aos domésticos. Esta percepção vem mudando, com a melhora da produção de instrumentos mexicanos e asiáticos, e a Lakland tem um papel importante nesse processo.

Inicialmente os baixos Skyline eram feitos na Coréia. Hoje a produção é na Indonésia. Os Skyline se tornaram um sucesso rapidamente, com preços acessíveis e qualidade que desafiava até mesmo instrumentos americanos. Entre os modelos Skyline mais populares estão os 44-01, 55-01, 55-02, DJ4 e DJ5. Um diferencial dos Lakland Skyline é que todos eles passam pela fábrica em Chicago para a montagem e regulagem final, incluindo o processo de Plek que deixa os trastes perfeitos.

Cerca de 10 anos atrás, a Lakland, sempre ouvindo seus clientes, resolveu experimentar uma linha intermediária, a Classic Series. Os instrumentos Classic Series são todos feitos em Chicago, mas com algumas limitações de opções. Com isso o cliente pode ter um baixo americano a um custo mais acessível.

Três baixos Lakland
As três séries da Lakland: Skyline 55-02, Classic 55-14 e USA 55-94

Com tantas opções à disposição, e faixas de preço distintas, às vezes fica difícil para o baixista tomar uma decisão sobre onde investir o seu dinheiro. E é uma decisão bastante pessoal. Nem sempre o instrumento mais caro é o mais apropriado para todos. Eu já tive mais de 100 baixos Lakland, de todos os modelos e origens, e vou lhes contar um pouco mais sobre as diferenças entre as três linhas.

Modelos

Em geral, os modelos da Lakland seguem uma numeração específica, representada pela notação xy-zz. O primeiro algarismo (x) é o número de cordas, o segundo algarismo (y) representa o comprimento da escala (4 para 34 polegadas, e 5 para 35 polegadas), e os dígitos seguintes (zz) representam o ano do instrumento no qual o modelo foi inspirado, ou, no caso de um modelo original Lakland, o ano em que ele foi lançado. Por exemplo, o modelo “jazz” de quatro cordas da Lakland é o 44-60 e o modelo “precision” se chama 44-64.

Normalmente eles são referenciados pelo seu modelo e a série da qual fazem parte. Entretanto há alguns modelos que não existem em todas as séries, o que é o caso dos instrumentos nas fotos neste artigo. Nas fotos, você vê três baixos, que são muito parecidos, praticamente o mesmo baixo, mas na que verdade são três modelos diferentes: um USA 55-94, um Classic 55-14, e um Skyline 55-02. Pela fórmula acima, fica fácil saber que eles foram introduzidos em 1994, 2014 e 2002, respectivamente. Todos eles têm os mesmos captadores e circuito ativo.

Madeiras

Na USA Series o céu é o limite. Os instrumentos são todos feitos por encomenda. Normalmente o tempo de espera é seis meses, mas na prática tem demorado um pouco mais. Você pode escolher as madeiras que quiser. Obviamente quanto mais rara a madeira, mais caro será o baixo.

Na Classic e na Skyline Series você está limitado a algumas opções clássicas de madeiras, como alder e ash pro corpo, e rosewood e maple para o braço. A diferença é que na Classic Series, você pode escolher a combinação de sua preferência. Já na Skyline as combinações são pré-definidas. A Classic Series não tem opções “Deluxe” (com tampo de madeira premium). A Skyline oferece algumas opções Deluxe, com tampo de flamed maple, spalted maple ou quilted maple, por exemplo.

Pintura

Da mesma forma das madeiras, há mais opções de pintura na USA Series. Antigamente a Lakland mandava todos os seus baixos USA para serem pintados por Pat Wilkins na Califórnia. Mas de uns anos para cá, eles aprimoraram seus processos de pintura em Chicago e hoje praticamente todos são pintados lá mesmo. Você também pode escolher a cor do seu Classic Series, mas há menos opções de cores, normalmente cores sólidas e sunburst clássicos. Nos Skyline, cada fornada vem toda em uma determinada cor. Há cores que são sazonais ou limitadas, e outras que são muito populares e estão disponíveis com frequência.

Braço

Uma inovação que a Lakland adotou já no seu início foram as barras de grafite dentro do braço, para dar mais estabilidade. Todos os baixos americanos, de 4 ou 5 cordas, têm barras de grafite no braço. Já nos Skyline, somente os de 5 cordas têm essas barras no braço.

Escala

As escalas padrão dos instrumentos USA Series historicamente são ou rosewood ou birdseye maple. Você tem a opção de ébano e outras madeiras, além de opções de binding e blocos. Nos Classic Series você não tem essas opções. As escalas são ou rosewood ou maple simples. Nos Skylines, em alguns instrumentos deluxe, você tem blocos e binding, mas novamente, as combinações são pré definidas para cada fornada.

Hardware

A ponte oval icônica da Lakland é a mesma em todos os baixos. Ela é feita pela Hipshot, mas há controvérsias sobre sua origem, pois as pontes dos Skyline e dos USA são virtualmente idênticas. Alguns especialistas dizem que as pontes dos baixos americanos são feitas nos EUA e as dos Skyline são feitas fora do país. Mas não temos confirmação disso.

As pontes Lakland nas três séries diferentes

As tarraxas também são Hipshot e aí há uma distinção interessante. Na USA Series são usadas as tarraxas Hipshot USA. Nos baixos de 4 cordas usam o modelo HB1 e nos de 5 cordas, o modelo Ultralite HB6 3/8″ com chave em formato de trevo. 3/8″ significa que a largura do post é de 0.375 polegadas, ou 9.5 mm.

Na Classic Series e na Skyline Series, as tarraxas são Hipshot Ultralite HB6 1/2″ LIC (ou licenciadas), que são feitas por um parceiro Hipshot na Coréia do Sul. As diferenças entre elas são sutis. A Lakland normalmente usa a cor “Satin Nickel”, com o corpo num metal não brilhoso. Para baixos USA Series há a opção de ponte e cravelhas pretas. Na linha Skyline somente algumas séries especiais vêm com hardware preto.

Diferença entre as tarraxas 1/2″ (Skyline) e 3/8″ (USA)

O corpo das tarraxas USA é um pouquinho mais leve, e a construção um pouco mais refinada, mas o funcionamento é macio em ambas. As dimensões dos posts (onde a corda é enrolada) são diferentes. Nos LIC 1/2″ (meia polegada, ou 12.7 mm), o post é mais fino na base, o que alguns baixistas preferem pois a corda é naturalmente empurrada pra baixo, mantendo um ângulo em relação ao capotraste. E há uma diferença na espessura máxima de headstock que cada uma suporta, o que vamos discutir na próxima seção.

Headstock

O headstock hoje já característico da Lakland e reconhecido à distância tem algumas diferenças entre as séries. O headstock da Skyline Series é mais fino do que os headstocks americanos. Cerca de 2 mm. Não sei precisar se isso causa alguma diferença no timbre, mas provavelmente ajuda a reduzir um pouco o peso por ter menos massa. A outra diferença é na fixação das cravelhas, e está relacionada a essa diferença de espessura.

Por causa da rosca, cada tarraxa tem um valor mínimo e máximo de espessura de headstock que é compatível. As tarraxas Hipshot USA Ultralite têm uma espessura máxima compatível de 17.5mm. Mas o headstock dos Lakland americanos é mais grosso do que isso. Por isso, as tarraxas americanas têm que ser embutidas na face do headstock. Nos Skyline, que usam as tarraxas LIC, e têm headstocks mais finos, isso não é problema. Os baixos da Classic Series têm os headstocks mais espessos dos instrumentos americanos, mas usam as tarraxas LIC que têm uma espessura máxima compatível maior.

Cabe aqui uma observação para quem gosta de fazer upgrades nos seus baixos. Por causa dessas pequenas diferenças entre as versões americanas e coreanas das tarraxas Hipshot, algumas vezes não é possível trocar uma pela outra. Por exemplo, nos baixos Classic não dá para simplesmente trocar as tarraxas LIC pelas USA. Seria preciso embutí-las alguns milímetros. Nos baixos Skyline, a espessura do headstock não é problema, mas há uma pequena diferença entre os diâmetros dos buracos. Nas tarraxas LIC de 1/2″, o buraco tem o diâmetro de 16 mm. As tarraxas USA precisam de um buraco com 17.5 mm de diâmetro. Aí há duas opções para colocar tarraxas americanas no seu baixo Skyline: alargar o buraco ou usar uma bucha específica, um pouco mais estreita, que a Hipshot fornece. Mas, sinceramente, é um upgrade que não vale muito a pena. As tarraxas LIC são excelentes.

Mão de obra

Mais uma vez, quanto mais barato o instrumento, menos artesanal é o processo de construção. Os baixos da USA Series são completamente feitos à mão em Chicago. Os Skyline são feitos em uma linha de produção, em quantidades maiores, na Indonésia. E os Classic Series ficam no meio do caminho. São feitos artesanalmente, mas utilizam recursos para agilizar o processo, como a máquina Plek para os trastes.

Eletrônicos

Com a exceção dos modelos Skyline 44-01 e 55-01, que usam captadores e preamp Bartolini MK-1, os eletrônicos são idênticos entre todas as séries da Lakland.

Hoje em dia a Lakland produz praticamente todos os seus captadores e circuitos, que são utilizados em todas as séries. Os captadores são fabricados artesanalmente na fábrica em Chicago. Nos modelos das fotos, você tem os captadores sem ruído LH-55 e o circuito LH-3. O captador da ponte tem duas bobinas, e uma chave que permite escolher usar as duas em série ou cada uma em separado. O circuito LH-3 tem controle de graves, médios e agudos e umas chavinhas (DIP switch) que permitem a configuração da frequência de centro do controle de médios.

Eletrônicos dos baixos Lakland
Os preamps dos três modelos 55-14, 55-94 e 55-02

Conclusão

Depois de tantos anos tocando instrumentos Lakland, e algumas visitas à fábrica em Chicago, aprendi muito sobre as diferenças nos materiais e nos processos de fabricação de cada linha. É fascinante o cuidado e o carinho que eles põem na confecção desses baixos. Mas o que mais me impressiona é que mesmo os instrumentos mais acessíveis já são sensacionais. É claro que os instrumentos customizados feitos em Chicago são superiores, como falamos anteriormente. No entanto, muitos artistas famosos e respeitados usam baixos Lakland Skyline. Eles não vêem necessidade de ter um instrumento custom USA Series. É uma decisão muito pessoal, e que não tem erro. Qualquer um deles é um baixo para a vida toda.

Espero que este artigo tenha sido útil. Afinal, nós baixistas somos todos nerds e adoramos um detalhe técnico, não é? Entre com contato com a Novità! Adoramos trocar idéias sobre esses baixos.

(Fotos gentilmente cedidas por Jamie van der Hagen)

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